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Saúde mental no ambiente corporativo: Necessidade do olhar atento para os colaboradores

A temática saúde mental tem sido cada vez mais discutida, principalmente diante dos casos de Burnout que vem ocorrendo no ambiente corporativo, com inúmeros registros nos anos de 2020 em diante, reflexo da pandemia global do COVID-19. Assim, as empresas que genuinamente têm em sua estratégia os preceitos do ESG, estão buscando destinar atenção e recursos para que estabeleçam uma cultura voltada ao bem-estar físico, mental e social de seus colaboradores.

Em 2022, a Síndrome de Burnout entrou na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), como a CID 111. De acordo com pesquisas da International Stress Management Association (ISMA), cerca de 30% da população do Brasil economicamente ativa sofre com as complicações da síndrome do Burnout.

Segundo a pesquisa IPSOS Global Health Service Monitor 20223, a saúde mental ultrapassou o câncer na lista de maiores preocupações globais com a saúde, e ocupa agora a segunda posição, atrás somente da Covid-19. O Brasil é o 7° na lista de países com maior preocupação com o tema.

Mas afinal, o que é o Burnout?

A síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes. A Síndrome de Burnout também pode acontecer quando o profissional planeja ou é pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir. Essa síndrome pode resultar em estado de depressão profunda e por isso é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.

Alguns fatores que podem afetar a saúde mental, são: (i) sobrecarga de trabalho; (ii) ambiente de trabalho tóxico; (iii) falta de suporte; (iv) falta de oportunidade de desenvolvimento, dentre outros.

No contexto do ESG, atrelado ao pilar do “S” – social – essa questão se tornou um tema de extrema importância, afinal, as organizações que possuem um olhar atento a essa temática, com ações e políticas de saúde mental, tem um impacto positivo diante da sociedade e afirmam a

importância desse assunto. Sabemos que o local de trabalho é onde passamos a maior parte do nosso tempo. Dessa forma há uma relação direta entre o ambiente de trabalho e a saúde mental das pessoas.

Além disso, saúde é um direito fundamental do trabalhador, que está disposto na Constituição Federal, e na OIT 5 número 155, estabelece em seu artigo 3º, que: “saúde, com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de afecções ou de doenças, mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho.”

O que as empresas podem fazer para promover um ambiente saudável?

As empresas podem ter iniciativas e procedimentos para promover um ambiente saudável por meio de programas de bem-estar, através dos quais se destinam inclusive a identificar e gerenciar casos e queixas de colaboradores relativos à exposição a situações de estresses, como aspectos relacionados a saúde mental (como transtorno do pânico, depressão, síndrome de burnout e outros); oferecer recursos para tratamentos dos problemas envolvendo a saúde mental; ter uma cultura de inclusão e apoio; ofertar treinamentos sobre o assunto incluindo treinamentos para as lideranças; ter um canal de comunicação aberto para que os colaboradores se sintam à vontade em relatar situações; dentre inúmeras outras ações.

Nota-se, assim, que não basta que as empresas estejam em conformidade com a legislação trabalhista vigente quanto com as normas e os padrões internacionalmente aceitos sobre práticas laborais. Elas precisam ir além, na medida em que precisam ter constantemente uma agenda aberta de diálogo, independentemente de negociações coletivas e datas-bases definidas pelo governo e/ou entidades de representação dos colaboradores com práticas sobre o tema em questão, pois somente assim construirão um ambiente de confiança.

Essas práticas incluem (i) respeito aos direitos humanos; (ii) redução da diferença entre os menores e os maiores salários; (iii) igualdade de tratamento entre funcionários próprios e trabalhadores terceirizados; (iv) equilíbrio entre o tempo de trabalho e o de descanso; (v) oferta de benefícios; e (vi) boa relação com organizações representativas dos trabalhadores, entre outros.

Mas infelizmente, o que vemos muitas vezes é que o discurso das empresas está desalinhado da prática. Segundo o Relatório do Great Place do Work – GPTW, “Tendências 2023”6, dentre as prioridades para a Gestão de Pessoas no ano de 2023, 27,4% se destinam à saúde mental dos colaboradores.

Das pessoas que responderam ao questionário do GPTW, 96,4% disseram que consideram a saúde mental/emocional um ponto importante para a Gestão de Pessoas na empresa, mas somente 49,7% delas afirmam que há orçamento para ações voltadas para a saúde mental das pessoas colaboradoras. Em contrapartida, 90% das Melhores Empresas para Trabalhar em 2022 indicaram que adotaram práticas relacionadas à saúde mental e bem-estar nos últimos 20 meses.

As porcentagens acima mencionadas nos acendem um sinal de alerta, pois apesar de a saúde mental ter começado a subir no ranking das prioridades de Gestão de Pessoas, em contrapartida esse tema ainda não recebeu investimento para se integrar à política organizacional das empresas.

Indagados sobre as ações a serem tomadas para o ano de 2023, os entrevistados responderam que irão atuar da seguinte forma:

Para saírem do discurso e aplicarem na prática as suas ações, as empresas estão apostando no uso de dados, mediante o mapeamento de perfis emocionais e na compreensão de índices de engajamento de profissionais, entre outras questões relevantes para as organizações – e para as pessoas que assim terão ambientes mais acolhedores, com políticas benéficas para sua saúde emocional. Segundo o Relatório do GPTW, o reconhecimento, justiça e propósito são três pilares fundamentais para os fatores de engajamento cujos perfis foram mapeados.

Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades e níveis, inclusive no que diz respeito à saúde mental, tema deste artigo, é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Objetivo 3).Este objetivo inclui metas de promoção da saúde mental e o bem-estar, que podem incluir programas de combate ao tabagismo, aconselhamento nutricional, fornecimento de alimentos saudáveis no refeitório, programas de redução de estresse, oferecimento de uma academia ou de programas de condicionamento físico.

Neste sentido, o Pacto Global da ONU possui o movimento “Mente em Foco” que convida empresas e organizações brasileiras a agir em benefício de seus colaboradores(as) e da sociedade como um todo no combate ao estigma e ao preconceito social ao redor da saúde mental.

Para tanto, é necessário que as empresas possuam indicadores atrelados às “doenças relacionadas ao trabalho”, dentro de seu planejamento estratégico para tomada de decisão. E para que isso seja possível, é importantíssimo que as empresas identifiquem, mensurem e apresentem seus indicadores de sustentabilidade, inclusive aqueles atrelados às doenças relacionadas ao trabalho, dentro de um processo regular e formalmente pré-estabelecido.

Afinal, não podemos nos esquecer que empresas saudáveis são formadas por pessoas saudáveis!

Por : Julia Batista Lourenço e Julia Pereira Belisário | Consultoria ESG

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