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Sustentabilidade: um produto da era do consumo

31/05/2012 – Robert Andrade*

O fim da Guerra Fria reforçou o discurso em favor da liberdade, que passou a ser diretamente associado ao poder de compra. Os indivíduos, ao contrário, do pensamento igualitário comunista, se veem livres para ser diferentes, pois estão inseridos em uma sociedade que lhes proporcionam mecanismos para se atingir um certo status.

O nível de diferenciação dos sujeitos é pautado na sua capacidade consumir, é o que irá definir o seu lugar na hierarquia social. Os produtos da sociedade de consumo têm a duração substituída pela transitoriedade, o durável pela permanente novidade, esta movimentação é mais significativa que adquirir e possuir bens.

Nesse cenário, as indústrias e outras organizações que têm como finalidade transformar coisas em produtos, se viram diante de um crescimento sem precedentes. Indiferente a qualquer dano que pudessem estar causando ao meio ambiente, cultura ou qualquer grupo social, essas instituições estão resguardadas pela busca do lucro e por alimentar o consumismo que sociedade lhes cobra.

O consumo é antídoto contra qualquer adversidade da pós-modernidade, tanto para o sujeito que quer se destacar em seu meio, como para sanar crises econômicas e políticas. Em tempo de recessão vemos representantes sociais pedirem que os cidadãos consumam mais; facilitação de crédito e redução dos juros, sempre com a mesma finalidade.

Comunicação e consumo interdependem, fazendo, obrigatoriamente, a produção voltar-se, permanentemente, para outros produtos, novos ou renovados, como também para a produção de bens simbólicos. Com isso, são ofertados discursos, como o American Way of Life nos Estados Unidos, que poderão, assim como outro produto qualquer, serem consumidos.

Esboçado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972, o conceito de sustentabilidade se consolida na Eco-92, no Rio de Janeiro. A ideia de sustentabilidade não surge como um contraponto à era do consumo. Diferente do capitalismo tem a oposição do comunismo, ou de movimentos sociais como o Power Flower que era contra a Guerra do Vietnã. O que cria a oposição é a disparidade dos discursos, o capitalismo propõe e depende do consumo permanente, enquanto o comunismo se pauta na igualdade e no consumo controlado.

A era do consumo não criou o consumidor, desde sempre o homem consome, porém o termo se refere a um comportamento, a um contexto onde tudo pode ser transformado em mercadoria, inclusive, os discursos. Dessa forma, o “sustentável” que deveria ser contrário ao consumo, acabou por ser adotado – com muita incoerência – pelas grandes empresas, tornando-se mais um produto fortalecido e vendido com apoio da mídia.

O conceito de sustentabilidade não é um ataque direto aos responsáveis pela degradação ambiental, pois é preciso que existam dois pontos antagônicos, e nesse cenário não somos capazes de identificar os culpados, se as indústrias, a mídia, o avanço da tecnologia ou a sociedade consumista.

A sustentabilidade veio para ser consumida, assim como qualquer outra mercadoria simbólica que é vendida com uma falsa promessa de felicidade.

* Robert de Andrade, colaborador Verde Ghaia

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